Quando se formam grupos humanos, costuma ocorrer um fenômeno peculiar ao
mesmo tempo que se estabelecem traços de identidade entre os
integrantes, se forjam também conceitos de exclusão em relação a
determinados elementos. Parece mesmo haver uma estreita relação entre
demarcar fronteiras para incluir certos valores e, de outra parte,
indicar limites para excluir outros tantos.
Tal processo pode não ser inteiramente consciente. Grupos de
jovens ou adolescentes, por exemplo, adotam positivamente certos valores
que lhes convêm, mas rotulam negativamente outros que são tidos como
indesejados, podendo estes últimos estar representados num indivíduo
considerando estranho por ser ou muito estudioso, ou muito relapso, ou
muito gordo, ou muito magro, ou muito pobre, ou ainda por ser de outra
raça, outra religião, outra ideologia – em suma, por ser diferente.
E isso, que ocorre nessa faixa etária e nesse âmbito, pode ocorrer em
qualquer idade e em vários outras circunstâncias. O curioso é que, em
todos os casos, parece haver um paradoxo: os grupos excluem este
diferente, mas precisam dele para existir, às vezes até convivendo
rotineiramente com ele.
Fonte:https://www.ufrgs.br/textecc/porlexbras/escrevendo/temaderedacao1993.php