Poucas pessoas sabem, mas o Brasil é destaque no contexto mundial de doação de órgãos e tecidos,
principalmente por ter o maior sistema público de transplantes do mundo. Porém, a alta taxa de recusa familiar para
doação de órgãos é um problema grave no país. Dados do Ministério da Saúde apontam que mais de 40% da
população brasileira não aceita doar órgãos de parentes falecidos com diagnóstico de morte cerebral, principalmente
nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país.
O consentimento informado é a forma oficial de manifestação à doação. A retirada de tecidos, órgãos e
partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica dependem da autorização do
cônjuge ou parente maior de idade, obedecida a linha sucessória, firmada em documento subscrito por duas
testemunhas presentes à verificação da morte.Evidentemente, a manifestação em vida da pessoa a favor ou contra a doação de seus órgãos e tecidos para transplante pode ou não favorecer o consentimento após a morte, mas, de acordo com a lei, é a vontade da família deve prevalecer", explica o médico Leonardo Borges de Barros e Silva.
A recusa veemente de uma mulher em doar os órgãos da filha foi um dos momentos que mais marcaram os
21 anos de carreira de Edvaldo Leal de Moraes, vice-coordenador da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do
Hospital de Clínicas de São Paulo.
José Ottaiano, vice-presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, lembra que a adesão à doação de
órgão é maior quando há campanhas nacionais, um caso de maior comoção, ou até quando o tema é abordado em
filmes ou novelas.
O coordenador médico do núcleo de captação de órgãos do Hospital Israelita Albert Einstein, José Eduardo
Afonso Junior, observa que uma das possíveis explicações para a rejeição à doação de órgãos é uma falta de
preparo profissional. Para reverter isso, ele aponta investimentos em classificação, como as pós-graduações em
Captação de Órgãos, que o Ministério da Saúde realiza em parceria com alguns hospitais, como o Einstein. Durante
as aulas, os profissionais participam de simulações de todo o processo, desde o diagnóstico até as conversas com a
família e orientações sobre armazenamento dos órgãos.[...]
O Estado de São Paulo.
11.03.17